Kabbalah,
literalmente "receber/tradição"; também romanizada como Cabala,
Qabbālâ, etc.; transliterações diferentes agora tendem a denotar tradições
alternativas é um método esotérico, disciplina e escola de pensamento que se
originou no judaísmo. Um cabalista tradicional no judaísmo é chamado de Mekubal.
Definições
da cabala variam de acordo com a tradição e objetivos daqueles que lhe seguem,
a partir de sua origem religiosa, como parte integrante do judaísmo, a sua
posterior cabala cristã, Nova Era, e adaptações sincréticas ocultistas. A
Cabala é um conjunto de ensinamentos esotéricos feitos para explicar a relação
entre uma imutável, eterno e misterioso Ain Soph (sem limites) e o universo
mortal e finito (criação de Deus). Embora seja muito usado por algumas
denominações, não é uma denominação religiosa em si. Ele forma os fundamentos
da interpretação religiosa mística. A Cabala procura definir a natureza do
universo e do ser humano, a natureza e o propósito da existência, e diversas
outras questões ontológicas. Também apresenta métodos para auxiliar a
compreensão desses conceitos e, assim, atingir a realização espiritual.
A
cabala originalmente se desenvolveu inteiramente dentro do domínio do
pensamento judaico, e cabalistas costumam usar fontes judaicas clássicas para
explicar e demonstrar os seus ensinamentos esotéricos. Esses ensinamentos são
mantidos pelos seguidores do judaísmo para definir o significado interno de
tanto a Bíblia hebraica e da literatura rabínica tradicional e sua dimensão
transmitida anteriormente escondida, bem como explicar o significado das observâncias
religiosas judaicas.
Os
praticantes tradicionais acreditam que suas origens pré-datam as religiões do
mundo, formando o modelo primordial para filosofias de criação, as religiões,
as ciências, a arte, e sistemas políticos. Historicamente, a cabala surgiu,
depois de formas anteriores de misticismo judaico, nos séculos 12 e 13, no Sul
da França e da Espanha, tornando-se reinterpretadas no renascimento místico
judeu da Palestina otomana, no século XVI. Foi popularizado na forma de
judaísmo hassídico do século XVIII em diante. O interesse do século XX pela
cabala tem inspirado a renovação judaica denominacional da cruz e contribuindo
para a mais ampla espiritualidade contemporânea não-judaica, assim como
envolver seu surgimento florescente e histórico re-destacado através da
investigação acadêmica recém-criada.
Origem e Evolução
Historicamente,
a Cabala surgiu depois de formas anteriores de misticismo judaico, nos séculos
XII e XIII, no sul da França e da Espanha, tornando-se reinterpretadas no
renascimento místico judeu da Palestina otomana, no século XVI. Foi
popularizada na forma de judaísmo hassídico do século XVIII em diante.
De
acordo com o entendimento tradicional, a Cabala surgiu num passado remoto, como
uma revelação para os justos (tzadikim), tendo sido preservada apenas por uns
poucos privilegiados.
As
formas mais antigas de misticismo judaico consistiam de doutrinas empíricas.
Mais tarde, sob a influência das filosofias neoplatônica e neopitagórica,
assumiram um caráter especulativo. Estudiosos modernos identificaram várias
irmandades místicas que funcionavam na Europa medieval, a partir do século XII.
Algumas eram verdadeiramente esotéricas, mantendo-se em grande parte anônimas,
e se desenvolveram especialmente com base nos textos místicos Sêfer Yetzirá
(Livro da Formação), onde se defende a ideia de que o mundo é a emanação de
Deus, e Sêfer HaBahir (Livro da Iluminação).
A
Cabala transformou-se em objeto de estudo sistemático dos "eleitos",
ou baale ha-kabbalah "possuidores ou mestres da Cabala”. Os estudantes da
Cabala tornaram-se mais tarde conhecidos como maskilim (משכילים
"iniciados"). Do século XIII em diante, ramificou-se em extensa
literatura, em paralelo com o desenvolvimento do Talmude.
Alguns
historiadores de religião afirmam que devemos limitar o uso do termo Cabala
apenas ao sistema místico e religioso que apareceu depois do século XII e usam
outros termos para referir-se aos sistemas esotéricos-místicos judeus
anteriores. Outros estudiosos veem esta distinção como sendo arbitrária. Neste
ponto de vista, a Cabala pós século XII é vista como a fase seguinte numa linha
contínua de desenvolvimento que surgiu dos mesmos elementos e raízes. Desta
forma, estes estudiosos sentem que é apropriado o uso do termo Cabala para
referir-se ao misticismo judeu desde o primeiro século da Era Comum. O judaísmo
ortodoxo discorda de ambas estas opiniões, assim como rejeita a ideia de que a
Cabala causou mudanças ou desenvolvimento histórico significativo.
Desde
o final do século XIX, com o desenvolvimento do estudo da cultura judaica, a
Cabala também tem sido estudada como um sistema racional de compreensão do
mundo, mais que um sistema místico. Um pioneiro desta abordagem foi Lazar
Gulkowitsch.
O
interesse do século XX pela Cabala, incluindo os esforços de investigação
acadêmica sobre o assunto, tem inspirado os movimentos de renovação judaica e
contribuído para o desenvolvimento da espiritualidade contemporânea
não-judaica.
O Zohar
O texto mais importante da Cabala é
o Zohar (זהר "Esplendor"), elabora sobre boa parte do material
encontrado no Sêfer Yetzirá e no Sêfer HaBahir. Obra cabalística por excelência
trata-se de um comentário esotérico e místico sobre a Torá (o Pentateuco do
Antigo Testamento), escrito em aramaico. A tradição ortodoxa judaica afirma que
o Zohar foi escrito pelo rabino Shimon Bar Yohai durante o século II. No século
XII, um judeu espanhol chamado Moisés de Leon declarou ter descoberto o texto
do Zohar que foi então publicado e distribuído por todo o mundo judeu. Gershom
Scholem, um célebre historiador e estudante da Cabala, sustentou que o próprio
de Leon teria sido o autor do Zohar. Dentre seus argumentos, um é que o texto
utiliza a gramática e estruturas frasais da língua espanhola do século XII;
outro é que o autor não tinha um conhecimento exato de Israel.
O Zohar registra o ciclo de morte e
renascimento chamado gilgul, ("roda" ou "transformações"),
ensinando que cada reencarnação é uma missão especial que inclui lições a se
aprender, ordens a serem cumpridas e feitos a serem executados, para equilibrar
erros cometidos em existências anteriores. O propósito mais importante do
gilgul é a purificação da alma e sua libertação do ciclo de vidas terrenas.
Conceitos
Alma humana
O Zohar propõe que a alma humana
possui três elementos, nefesh, ru'ach, e neshamah. O nefesh é encontrado em
todos os seres humanos e entra no corpo físico durante o nascimento; é a fonte
da natureza física e psicológica do indivíduo. As outras duas partes da alma
não são implantadas durante o nascimento, mas criadas lentamente com o passar
do tempo. Seu desenvolvimento depende das ações e crenças do indivíduo. Elas só
existiriam por completo em pessoas espiritualmente despertas.
Uma forma comum de explicar as três
partes da alma é como mostrado a seguir:
Nefesh - A parte inferior ou animal
da alma. Está associada aos instintos e desejos corporais.
Ruach - A alma mediana, o espírito.
Ela contém as virtudes morais e a habilidade de distinguir o bem e o mal.
Neshamah - A alma superior, ou
super-alma. Essa separa o homem de todas as outras formas de vida. Está
relacionada ao intelecto, e permite ao homem aproveitar e se beneficiar da
pós-vida. Essa parte da alma é fornecida tanto para judeus quanto para
não-judeus no nascimento. Ela permite ao indivíduo ter alguma consciência da
existência e presença de Deus.
A Raaya Meheimna, uma adição
posterior ao Zohar, de autor desconhecido, sugere que haja mais duas partes da
alma, a chayyah e a yehidah. Gershom Scholem escreveu que essas "eram
consideradas como representantes dos níveis mais elevados de percepção
intuitiva, ao alcance somente de alguns poucos escolhidos".
Chayyah - A parte da alma que
permite ao homem a percepção da divina força.
Yehidah - O mais alto nível da alma,
pelo qual o homem pode atingir a união máxima com Deus.
Guemátria
A Guemátria, também conhecido como
"numerologia judaica", é um método hermenêutico de análise das
palavras bíblicas, de origem assírio-babilônica, que atribui um valor numérico
definido a cada letra do Torá (Pentateuco).
A cada letra do alfabeto hebraico é
atribuído um valor numérico. Os valores guemátricos das 22 letras hebraicas
são:
Decimal | Letra | Hebraico |
---|---|---|
1 | Aleph | א |
2 | Bet | ב |
3 | Gimel | ג |
4 | Daled | ד |
5 | Heh | ה |
6 | Vav | ו |
7 | Zayin | ז |
8 | Het | ח |
9 | Tet | ט |
Decimal | Letra | Hebraico |
---|---|---|
10 | Yud | י |
20 | Kaf | כ |
30 | Lamed | ל |
40 | Mem | מ |
50 | Nun | נ |
60 | Samech | ס |
70 | Ayin | ע |
80 | Peh | פ |
90 | Tzady | צ |
Decimal | Letra | Hebraico |
---|---|---|
100 | Koof | ק |
200 | Reish | ר |
300 | Shin | ש |
400 | Taf | ת |
500 | Kaf (final) | ך |
600 | Mem (final) | ם |
700 | Nun (final) | ן |
800 | Peh (final) | ף |
900 | Tzady (final) |
O valor de uma palavra do Torá é
definido como o somatório dos valores das letras que a compõem. Quando o valor
de uma palavra equivale à de uma palavra diferente, a Guemátria entende que
elas necessariamente têm uma ligação simbólica. Analisando estas conexões
através de métodos elaborados, as escrituras sagradas são interpretadas e
explicadas.
Árvore da Vida
A
Árvore da Vida é um sistema cabalístico hierárquico em forma de árvore,
dividida em dez Sefirot (partes ou frutos), que tanto podem ser interpretadas
como estágios do todo (Universo), quanto ser lidas como estados de consciência.
As
Sefirot são consideradas como emanações de Ain Soph, que permanece não
manifestado e é incompreensível à inteligência humana.
Os
Sefirot emanados são na sequência:
1.Kether
- Coroa
2.Chokmah
- Sabedoria
3.Binah
- Entendimento
4.Chesed
- Misericórdia
5.Geburah
- Julgamento
6.Tipareth
- Beleza
7.Netzach
- Vitória
8.Hod
- Esplendor
9.Jesod
- Fundamento
10.Malkuth
- Reino
A
Árvore da Vida começa em Kether, a centelha divina, a causa primeira de todas
as coisas. Esta centelha desce na árvore tornando-se cada vez mais densa. A
décima sefirah é Malkuth, a matéria densa, e representa o estado último das
coisas. Subindo na Árvore, partindo de Malkuth, o homem eleva seu estado de
consciência, aproximando-se cada vez mais de Kether. Desta forma, a Árvore da
Vida pode ser usada tanto para explicar a criação do Universo quanto para
hierarquizar o processo evolutivo do homem.
Críticas
Dualidade
Cabalística
Embora
a Cabala sustente a unidade de Deus, uma das críticas mais sérias e
persistentes é que pode questionar o monoteísmo e promover o dualismo (crença
de que existe um poder do bem contraposto a um poder maligno), pois alguns de
seus textos mencionam a existência de uma contraparte sobrenatural de Deus.
Existem
dois modelos principais de cosmologia gnóstica dualista: o primeiro, que
remonta a Zoroastrismo, acredita que a criação é ontologicamente dividida entre
as forças do bem e do mal. A segunda, encontrada em grande parte das filosofias
greco-romanas, como o neoplatonismo, acredita que o universo conhecia uma
harmonia primordial, mas que uma perturbação cósmica originou uma segunda
dimensão da realidade, o mal. Este segundo modelo influenciou a cosmologia da
Cabala.
De
acordo com a cosmologia cabalista, as dez Sefirot correspondem a dez níveis de
criação. Estes níveis da criação não devem ser entendidos como dez diferentes
divindades, mas como maneiras ou níveis diferentes de revelar Deus. Não é Deus
que muda, mas a capacidade de perceber Deus que muda.
Enquanto
Deus pode parecer apresentar natureza dupla (masculina/feminina,
compassiva/julgadora, criadora/destruidora), os seguidores da Cabala têm
consistentemente salientado a unidade absoluta de Deus. A natureza oculta e
ilimitada de Deus, ou Ain Soph, existiria acima de tudo, transcendendo qualquer
definição. A habilidade de Deus para tornar-se escondido da percepção é chamada
de tzimtzum ("restrição"). O ocultamento torna a criação possível
porque Deus pode ser "revelado" em uma diversidade de formas
limitadas, formando então os blocos de criação.
Trabalhos
cabalísticos posteriores, incluindo o Zohar, parecem afirmar o dualismo mais
fortemente. Eles atribuem todos os males do universo a uma força sobrenatural,
conhecida como Achra Sitra ("outro lado"), que também emana de Deus.
A "esquerda" da emanação divina é um reflexo negativo do lado de
"santidade", com que foi bloqueado em combate. Embora neste aspecto o
mal exista dentro da estrutura divina dos Sefirot, a Zohar indica que o Ahra
Sitra não tem poder sobre o Ain Soph, e só existe como um aspecto necessário da
criação de Deus para dar ao homem o livre arbítrio, e que o mal é a
consequência dessa escolha. Não é uma força sobrenatural em oposição a Deus,
mas um reflexo da luta interna moral dentro de humanidade entre os ditames da
moralidade e da renúncia de instintos básicos.
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